Ana Carolina: floriram rosas no Campo Pequeno
A Praça de Touros do Campo Pequeno quase que encheu para ver o regresso de Ana Carolina aos nossos palcos, depois da paragem ditada pela pandemia da covid-19. Quando Ana Carolina subiu ao palco às 21h45, já os seus instrumentistas - um baterista e um teclista - estavam a bulir, para o tema de arranque: a sua versão do clássico de Roberto Carlos, 'Namoradinha de um Amigo Meu'.
A cilindrada rock manteve-se nos temas subsequentes, incluindo em 'Sinais de Fogo'. Público e artista ainda se estavam a estranhar, mesmo quando Ana Carolina sacou de um dos seus temas recentes mais na berlinda, 'Não Tem no Mapa', cujo videoclipe foi projetado no ecrã ao fundo do palco.
O crescendo de empatia entre Ana Carolina e os espectadores foi-se assinalando ao longo do concerto de hora e meia. Durante quase meia-hora os focos de luzes concentraram-se apenas na cantora, que, de violão na mão, tomou conta do palco sozinha, sentada ao lado da mesinha redonda com dois copos de água. 'Confesso', 'Tolerância' ou 'Combustível' foram algumas das músicas que Ana Carolina interpretou durante o longo descanso dos seus dois músicos de palco.
A voz de Ana Carolina tem tempo para aquecer, até dar ordem de descolagem para o ar dos seus melhores graves. Pouco comunicadora em palco, recorda um telefonema de Maria Bethânia em 2001, em que Ana Carolina gelou de surpresa.
O histerómetro do Campo Pequeno finalmente regista um abanão na agulha ao primeiro sinal da canção É Isso Aí (que Seu Jorge compôs) depois de mais de 40 minutos invulgarmente pacatos. A cada música que termina sozinha, Ana Carolina ergue o braço no ar, em sinal de vitória. Depois, levanta-se da cadeira e, de pé e sem o seu fiel companheiro de seis cordas, interpreta Um Dia Um Adeus, acompanhada pelo teclista, numa balada com todos os sentimentos à solta, apesar do registo mais comedido.
De novo em trio, com os seus dois músicos na pandeireta, Ana Carolina faz uma pequena sessão de sambas, que conclui com dois instrumentais com muita batucada.
Na curva final do espetáculo, Ana Carolina volta às canções, com Meu Sangue Ferve por Você ou Rosas. A cantora aproxima-se da plateia, um pouco agachada, à procura de alguma coisa, talvez de um público mais solto. Pediu isso no tema seguinte, e o público do Campo Pequeno obedeceu-lhe como todo o gosto, levantando-se e saltando. O Campo Pequeno parecia de repente outra sala.
No final, Ana Carolina filmou o público com o seu telemóvel e distribuiu pétalas de rosa pelo público. O Campo Pequeno floriu graças à cantora que se diz "feita p'ro amor".
