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17 janeiro 2022
12:20
Redação

Cães reconhecem várias línguas e até palavras sem sentido

Cães reconhecem várias línguas e até palavras sem sentido
Imagem de wendy julianto por Pixabay
Conclusões de um estudo da Universidade Eötvös Loránd, em Budapeste.

A Universidade Eötvös Loránd em Budapeste, na Hungria, quis saber mais sobre a capacidade de entendimento da linguagem dos cães e concluiu que estes animais reconhecem várias línguas e até palavras sem sentido.

Os 18 participantes do estudo estiveram deitados a usar auscultadores, enquanto uma máquina de imagem por ressonância magnética funcional (fMRI) andava à volta das suas cabeças. O objetivo era saber onde e como o cérebro se ilumina quando é exposto a línguas conhecidas em oposição a línguas desconhecidas, ou a discurso natural em oposição a discurso sem nexo.

Para isso, os cães ouviram uma voz feminina recitar uma conhecida frase do livro infantil, "O Principezinho", primeiro, em espanhol, depois, em húngaro. “Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos”, disse a voz suave, depois começou a recitar várias palavras sem sentido. Alguns participantes estavam familiarizados com o espanhol, mas nunca tinham ouvido a língua da Hungria, outros conheciam húngaro, mas nunca tinham ouvido espanhol. 

As imagens do cérebro revelaram diferentes padrões de atividade no córtex auditivo primário, quando as palavras sem sentido eram ditas mas não quando o discurso natural ocorria. Também revelaram que diferentes áreas do cérebro ficam ativas quando um idioma desconhecido é falado, ao contrário do que acontece quando os participantes ouviam uma língua conhecida.

“Esta é a primeira espécie não-primata em que conseguimos demonstrar uma capacidade linguística espontânea - é a primeira vez que conseguimos localizá-la e ver onde esta combinação de duas línguas ocorre no cérebro”, disse Attila Andics, chefe do Departamento de Etologia (o estudo dos animais) da Universidade Eötvös Loránd, que liderou a experiência.

A ideia para este estudo começou quando a neuroetologista Laura Cuaya saiu do México para viver em Budapeste com o seu cão, Kun-kun, um border collie. Nessa altura surgiu a questão de se o animal conseguiria entender uma língua além do espanhol que sempre conheceu. Com os colegas da Universidade, Cuaya concebeu o estudo e adianta à CNN que o seu cão, "Kun-kun está feliz por participar. Nota-se que é emocionante e ele recebe muita atenção”. A investigadora acrescenta que “é importante mencionar que todos os cães podem deixar a máquina a qualquer altura”, e sublinha que os donos estavam presentes e os cães “estavam confortáveis e felizes”.

O estudo concluiu que os cães apresentam mais atividade cerebral no córtex auditivo quando ouvem palavras sem sentido por oposição ao discurso natural, independentemente da língua falada. Porém, perante diferentes línguas, o cérebro iluminava-se numa região do cérebro completamente diferente e mais complexa, o córtex auditivo secundário. “Cada língua caracteriza-se por uma variedade de regularidades auditivas. Os resultados sugerem que, durante a convivência com humanos, os cães aprendem as regularidades da língua a que são expostos”, disse numa declaração o coautor Raúl Hernández-Pérez, investigador em pós-doutoramento no Departamento de Investigação Animal na Universidade Eötvös Loránd. “Isto é muito semelhante ao que se vê em crianças muito novas, em idade pré-verbal, que conseguem distinguir as línguas de forma espontânea antes de começarem a falar”, afirmou Andics à CNN.

E parece que a prática leva à perfeição. Quanto mais velho o cão era, melhor o seu cérebro distinguia a língua conhecida da desconhecida. Importante é também a entoação dada às frases ditas aos cães, que conseguem distinguir frases familiares de outras, mesmo que seja usado o mesmo tom.

Andics considera que “no seguimento desta investigação, a questão se centenas de anos de domesticação deram aos cães vantagem no processamento da linguagem é muito emocionante”.

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