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26 julho 2017
02:55
Gonçalo Palma

Jorge Palma e Jake Bugg a sós, ou o SOS à alma

Jorge Palma e Jake Bugg a sós, ou o SOS à alma
Noite de solidões em palco no cooljazz onde o vento quis fazer companhia.

Jorge Palma e Jake Bugg foram hoje homens sós em palco, no cooljazz, nos frios Jardins do Marquês do Pombal, em Oeiras.
 
Jorge Palma foi mesmo quem fechou a noite, perfumando a Oeiras histórica com o seu charme ao piano de cauda, tocando o álbum "Só", gravado há mais de 25 anos quando o diploma do conservatório do pianista ainda tinha a tinta a brilhar de fresca.
 
Não tocando necessariamente as 15 músicas de "Só" pela ordem do disco (o que se saúda), Jorge Palma confrontou a sua solidão consigo próprio, com o piano, com o público e com a mulher que almeja, numa 'Viagem na Palma da Mão' continuada até a 'O Fim', até 'Só'.
 
O pianista declara que 'O Meu Amor Existe'. E se canta que o seu “amor tinha trinta mil cavalos a galopar no peito”, microcâmaras filmam as trinta mil mãos de Palma a galopar pelas teclas do piano que o ecrã atrás projeta. Anseia mais tarde por 'Essa Miúda', noutro rasgo de génio apaixonado enquanto o vento faz ondular os ramos das árvores altas à volta ou, quem sabe, a camisa de noite da miúda exibida no ecrã. A mulher, sempre a mulher, é também a 'Estrela do Mar', alteada por metáforas marítimas e por uma das mais bonitas melodias ouvidas no universo.
 
Jorge Palma, o idealista, imagina a 'Terra dos Sonhos' e também a sua utopia urbana do virtual 'Bairro do Amo', "onde não há prisões nem hospitais" e onde se calhar havia lugar ao seguinte 'Jeremias Fora-da-Lei', o rebelde de que todos gostamos, e que Jorge Palma celebra com um dedilhado mais folião e bluesy no seu querido piano.
 
Mais real é 'A Canção de Lisboa', com a capital lá atrás (no ecrã) também abandonada à noite, depois de se ter ouvido 'Deixa-me Rir', o tema mais popular de Palma que o público foi sabendo sussurrar.
 
A meio do set, os seis lindos projectores fazem-se iluminar e Jorge Palma já pode apreciar o público, passado o tal "nervoso miudinho". 'À Espera do Fim', além de mais outra grande canção, é no cooljazz, graças àquele ecrã, uma galeria fotobiográfica da vida de Jorge Palma: do jovem a pedir boleia que toca nas ruas de Paris ao rocker do Palma's Gang. Foi melhor que ver slides.
 
Em 'Frágil', Jorge Palma é mais uma vez um pianista de corpo inteiro, com mão esquerda pesada de elefante nas teclas mais graves e uma mão direita mais solta a gatinhar dançarina pelas teclas mais agudas e finas. Sente-se Jorge Palma ágil, ao contrário da letra, em que o whisky de esmalte lhe sabe mal.
 
O Jorge Palma de hoje que se vê nos Jardins do Marquês de Pombal já não é o frágil desguarnecido pela exposição ébria, à mercê da piadola de algum engraçadinho. Lucidamente, diz que fala “muito da solidão. Não é negativa, às vezes faz falta”.
 
Para o final, vem o alento de 'A Gente Vai Continuar', contra a desistência. No encore, sempre só, Jorge Palma canta a alguém o pedido de 'Encosta-me a Mim'' que o público volta timidamente a acompanhar. Depois do esperançoso 'Passos em Volta', o cantor encerra a lindíssima atuação com 'Portugal Portugal', quando o país se mistura com um tipo trôpego e autodestrutivo que Jorge Palma canta e lamenta.

 
Antes, Jake Bugg contou com uma falange de apoio de gente jovem com idade semelhante à do cantor (está com 23 anos), concentrada junto ao palco e quebrando a ortodoxia das cadeiras.
 
Jake Bugg, com o seu ar tão miúdo, arranha sozinho em palco a guitarra acústica. O seu sotaque inglês working class, típico do centro norte inglês, traz à memória a dicção rude de Alex Turner dos Arctic Monkeys. Jake Bugg soa a uma espécie de The La's em versão de cantautor folk. Apesar da leveza instrumental, o arsenal de canções já é pesado e desequilibra a balança espiritual das almas presentes.
 
A enorme franja à Beatles é cúmplice com a sua timidez. As frases são soltas entredentes, mas cada canção que anuncia provoca a histeria juvenil. O pico recorde dessa histeria acontece com o anúncio de 'Broken', quase a finalizar uma atuação marcada pela apresentação das canções novas que vão compor o novo álbum, a sair já a 4 de agosto.

 

Fotos: cortesia do edpcooljazz

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