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01 outubro 2019
02:10
Redação

Michael Bublé: e no fim ganha o amor

Michael Bublé: e no fim ganha o amor
Grande show do cantor canadiano na Altice Arena. O drama foi convertido em algo maior, divertido e romântico.

Numa Altice Arena lotadíssima, serve-se espumante, com os devidos baldes gelados e os copos de pé adequados, nas plateias sentadas da frente. O palco é tão estreito que mais parece uma pista, com uma língua que leva Michael Bublé ao centro da arena. Ao fundo, está uma estrutura arredondada, espécie de bancada, onde se sentam os trinta elementos da orquestra. Foi no cume dessa estrutura que surge, qual aparição, Michael Bublé, de fato e gravata azuis, descendo as escadas e pondo-se à frente de um planeta em rotação enquanto cantava o tema de arranque 'Feeling Good'. Mantendo o ambiente de musicais, segue-se o tema bem disposto Haven't Met You Yet que leva Bublé a espicaçar os espetadores para dançarem, incluindo duas amigas loiras aos pulos junto ao prolongamento do palco, cuja atitude desinibida captou a simpatia do entertainer.

Com o discurso inicial, Michael Bublé conquistou o público. Falou dos tratamentos ao cancro do filho que ia fazendo terminar a sua carreira. A ultrapassagem desta tormenta faz hoje Bublé gozar cada momento em palco onde prometeu que justificaria o preço elevado dos bilhetes. De confidente a comediante, está tudo interligado, e logo a seguir o cantor brincou com os turistas ingleses de pele branquinha que se torram e avermelham debaixo do nosso sol. 

'I Only Have Eyes for You' é um swing que Sinatra não desdenharia e que Bublé canta enquanto faz o estalido de castanholas com a mão. Como cada tema é uma festança, Sway põe toda a gente de pé novamente, enquanto a sua trupe de trompetistas sopra uns ares de bolero neste bilíngue anglo-espanhol. E Such a Night dá novo alento a Michael Bublé para mais uma corrida pela língua de palco e para mais uns apertos de mão valentes aos espetadores mais próximos.

Michael Bublé continua a tratar os quase vinte mil espectadores presentes como se fossem todos os seus melhores amigos, para mais umas confidências. Fala dos pais presentes na sala e faz uma dedicatória ao avô que o fez gostar deste tipo de música, antes de se lançar à canção nº7 do alinhamento, '(Up A) Lazy River'. Apesar de utilizador de um fato que mal cabe no seu corpo robusto, Michael Bublé tenta mais um sapateado desajeitado e faz levantar o departamento de metais da sua big band, no júbilo do clássico de jazz 'When You're Smiling'.

A seguir, encena-se momentos que são mais imprevisíveis para o público do que para quem está a usar o palco. Michael Bublé faz o seu dueto da noite com um espertador, no caso uma menina estrangeira, com a mãe ao lado. 'You're Nobody till Somebody' Loves You é cantado efusivamente por um dos trompetistas num dos momentos mais soltos do concerto, depois do guitarrista brasileiro ter trocado umas palavras com o público em português

O autoproclamado promotor do amor testa-se num dos grandes clássicos românticos popularizado por Nat King Cole, 'When I Fall in Love', com muito trabalho para a secção de cordas, enquanto a tela se estrelou como uma noite escura e prístina.

 


O tríptico a solo de Bublé nos temas 'Love You Anymore', 'Forever Now' e 'Home', é a fase mais pop do concerto, deixando vir ao de cima novamente o seu drama com o filho, nomeadamente em 'Forever Now', descrito pelo cantor como o tema mais importante da sua vida, escrito numa altura em que pensava não voltar a cantar.

Depois, os candeeiros suspensos descem e Michael Bublé migra com um combo de jazz de oito membros para o palco ao centro da arena em 'Buona Sera Signorina', enquanto que a restante Big Band deixada para trás dança de pé nos seus lugares em 'Just a Gigolo'. Na versão de 'You Never Can Tell' de Chuck Berry, o frenesim corporal torna-se viral em toda a sala, neste clássico de dança ao par de Uma Thurman e John Travolta em "Pulp Fiction", que Michael Bulble tenta imitar sempre que flecte as pernas enquanto canta.

Antes de 'Nobody But Me', o canadiano desata a fazer uma série de selfies e de caretas com vários telemóveis dos espectadores. Uns minutos mais à frente, ouve-se 'Cry Me a River', balada arranjada como um épico e faiscada por relâmpagos, num temporal emocional ideal para fechar um concerto.

Cumprida a projeção da sessão de fotos do dia, tiradas na Lisboa soalheira e de noite no concerto, retomamos a viagem aos Estados Unidos dos anos 30 em 'Where or When', com um grande brilharete do pianista na parte mais instrumental, e um efeito da projeção de cascatas que parecem mais lágrimas a cair, durante a comovida interpretação de Bublé.

Na popular composição de Bublé, 'Everything', as emoções do público fizeram abanar mais que o normal os balcões provisórios, num sismo 6.0 que durou os três minutos da canção

Após um grande elogio e uma longuíssima ovação à sua orquestra, e feita nova menção aos pais e mulher (Luisana Lopilato) presentes na sala, 'Always on My Mind' (popularizado por Elvis Presley na sua fase já desecendente) foi o remate grandiloquente de uma grande noite. Durante a despedida de Michael Bublé, ouviram-se das aclamações mais genuínas de sempre nesta sala com mais de 20 anos. O adjetivo de genuíno replica para o próprio Bublé, o homem que descobre os corações de cada um, no meio daquela grandeza. Do grande foi ao íntimo e soube divertir-nos. Celebremos a continuidade da sua carreira. Celebremos a vida do seu filho mais velho Noah. Celebremo-nos.
 

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