
Já lá vão umas semanas desde o meu regresso do Cáucaso e ainda hoje estava a olhar para as notas tiradas naquele magnífico país com aquelas magníficas paisagens. A montanha puxa o caminhante, pede compromisso e mistura-se com o pensamento.
Fui recordando pequenos aforismos, breves notas e pensamentos deixados com o Sol de frente enquanto a cerveja georgiana ia escorregando com a cabeça ainda a fervilhar. Partilho consigo alguns apontamentos de viagem:
"O excesso mata o significado". Muitas vezes deixamo-nos levar pela quantidade perdendo a noção de que, grande parte do tempo, há coisas que devem permanecer sem explicação, outras intactas, como virgens sem que se estrague o significado de uma paisagem, de um momento, de um cenário. Tirar fotografias ou guardar na nossa memória? É sempre vantajoso parar um bom bocado diante do sublime tentando mantê-lo puro. Devemos administrar estados de silêncio e aprender a dizer "não sei" mais vezes.
Outras notas:
"não tenho tatuagens.
as únicas marcas que tenho cravadas na pele são as demoras dos abraços que dei
e sobretudo
aqueles em que os corações se juntaram
e bateram sincronizados
numa ausência anunciada.
tenho o corpo tapado de histórias, de viagens e de gente.
é dessa tinta que somos feitos."
Foi também uma viagem para recordar pessoas e gestos, aproveitando os tempos mortos para dar vida à saudade e escrever às pessoas de quem sinto falta. Isso muda a visão das coisas. Altera todos os estados para melhor.
"O mundo, muitas vezes, não está connosco." Em viagem, sozinhos ou acompanhados, durante algum tempo, vamos reconhecendo outras realidades e apercebendo que pensamos de forma diferente quanto nos defrontamos com situações insólitas. Cada um reage da forma que acha melhor, mas cada um é singular e o mundo nem sempre nos acompanha.
"A Natureza não precisa de nós para nada".
Termino com esta nota. Porque antes e depois de mim, a montanha continuará intacta, imponente, segura e firme. Há que aprender a escutar aquilo que já cá estava, agradecer e tentar olhar para dentro como nos desafia sempre a Natureza.