Super Humanidade!
Sente na pele que às vezes é uma verdadeira super-mulher mas ninguém lhe liga mais por causa disso? Que só ligariam (para a olhar de soslaio), se porventura fosse abaixo desse patamar de pessoa-que-nunca-falha-e-que-é-capaz-de-superar-qualquer-obtáculo? É isso?! Aqui escrevi «pessoa» e não «mulher» porque verdadeiramente acredito que esta expectativa elevada ao mais alto dos píncaros, não é sexista, tanto serve a homens como a mulheres. Temos de ser uns super heróis!!! Mas, naturalmente, ponho-me no meu lugar e revejo-me nas mulheres que têm de ser boas mães, boas donas de casa, boas esposas (brrr!!! não gosto nada desta palavra mas é o que há ), boas profissionais, boas amigas, boas colegas…boas, boas, boas. Nada menos do que isso! Impecáveis na atitude, na aparência, na conversa, no exemplo...E querem mesmo fazer-nos acreditar que temos de ser assim. Reparem nos modelos que nos chegam de todo o lado: as personagens dos filmes (sempre impecavelmente vestidas e maquilhadas); os vídeo clips da música com mulheres lindas de morrer; os players da sociedade, dos políticos aos futebolistas, passando por actores e apresentadores de televisão, todos maravilhosos, ricos, e super felizes!!! E nós quase a acreditar que se não for dessa maneira, não vale a pena! Que ilusão!
Quando estávamos em pleno confinamento entrei num supermercado e olhei para um cartaz que dizia «nada nos vai fazer desistir». Muito encorajador, sem dúvida, em tempos incertos. De facto não devemos desistir, é preciso lutar sempre, todos os dias. Com ou sem pandemia. Mas também é preciso ter cuidado com aquilo que exigimos. De nós e dos outros! Sobretudo quando as coisas são requeridas ao homem-massa sem exceções, como se todos fossemos iguais e reagíssemos da mesma maneira. Tudo isto faz-me ter mixed feelings pois nunca se valorizou tanto o homem-indivíduo como agora, mas nunca tanto como nestes tempos o homem-massa está proeminente.
As nossas histórias, pessoais e coletivas, tendem sempre a ir procurar um «culpado» para as situações que nos fazem sofrer, talvez com o objetivo de, mais do que penalizar, aliviarmos a nossa pressão garantindo a nossa inocência. E quem é o culpado nesta perfeição que nos é exigida? É a sociedade e tudo o que nela está envolvido (a publicidade, os filmes, os videoclipes) ou somos nós, cada um de nós, que aceita os modelos «impingidos» sem nada fazer?!
É preciso ter cuidado com aquilo que nos pedem e que pedimos aos outros. A vida não é um filme ou uma série… tem outros contornos e nós, simples mulheres, falhamos. E não tem nada de mal! Vamos lá parar com isso de nos pedirem para sermos perfeitas. Por isso, talvez, os falhanços quando assumidos são redondos, cruéis e pelos vistos irreversíveis (como temos assistido nos últimos tempos). A vida não é perfeita! Nunca será! Caímos…e levantamo-nos. Todos os dias temos mais uma oportunidade de sermos melhores, mas com toda a realidade e pragmatismo. Sem fantasias de Hollywood…ou de Hollywood à portuguesa. Vamos lá gritar ao mundo: somos apenas seres humanos e não super mulheres! E deixar a vida acontecer simplesmente…
Dora Isabel
Van Morrison - Thats Life