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19 abril 2021
12:05
Redação

Elvira: "temos de estar bem connosco para conseguirmos estar bem com o mundo"

Elvira: "temos de estar bem connosco para conseguirmos estar bem com o mundo"
Foto Promocional
A cantora portuense lançou o single 'Foi Sem Querer'. É a primeira amostra do disco de estreia de Elvira.


No ano passado, Elvira, antes conhecida por Via, mergulhou no imaginário da música portuguesa dos anos oitenta e emergiu com uma versão do clássico que Né Ladeiras celebrizou em 1982, a canção 'Sonho Azul'

cantora portuense, que já colaborou com Miguel Araújo ou Tiago Nacarato, está de volta aos lançamentos e chega a 2021 com um original. O tema chama-se 'Foi Sem Querer' e é o primeiro single do disco de estreia com lançamento talvez lá mais para o final do ano. Pelo que nos contou, através da plataforma Zoom, o novo disco, que tem a produção de Bruno Vasconcelos, ainda está a ser preparado mas é garantido que inclua alegria, um cruzamento do som acústico com sonoridades mais eletrónicas e uma série de surpresas

Antes da conversa, um breve contexto biográfico sobre a cantora:

Elvira começou a escrever e a compor temas desde cedo mas, sendo uma mulher assumidamente de personalidade reservada, só mais tarde é que decidiu partilhá-los. Ainda bem que o fez. Os primeiros concertos que deu, que na altura eram para o grupo de amigos ou em bares, eram à base de versões de outros artistas mas, depois de ter passado quatro anos a estudar em Lisboa, em 2014, a cantora regressou ao Porto onde, no ano seguinte, criou o projeto musical Via com mais três elementos. Foi precisamente com esse projeto que abriu os concertos de Miguel Araújo em 2017 ou fez um dueto com Tiago Nacarato. 

Durante o período de confinamento ou semiconfinamento, Elvira largou o Via e decidiu adoptar o nome próprio que herdou da bisavó, uma cantora de ópera numa época em que as mulheres que cantavam publicamente não eram muito bem vistas. Da bisavó, a cantora herdou também o arrojo e um piano de cauda que viria a fazer despertar o seu interesse pela música. Autodidata na guitarra e no ukulele, Elvira sempre apostou na formação musical, tendo passado pela Escola Maiorff, pela Academia Valentim de Carvalho e posteriormente pela Faculdade Nova de Lisboa, onde se licenciou em Ciências Musicais. Também estudou piano jazz no Hot Clube.
 

Começaste a compor com que idade?


Já não me recordo bem da idade certa. Tinha 17 ou 18 anos. Por essa altura, pedi aos meus pais uma guitarra como prenda de anos e eles deram-me. Comecei logo a compor. Quando comecei nunca tinha estudado música, apenas sonhava com essa possibilidade. Como na altura era muito envergonhada achava que a música era uma área demasiado difícil para mim. Foi por isso que, antes de seguir música, decidi estudar economia. Não funcionou. A dada altura, fui falar com os meus pais e disse-lhes que ia desistir da faculdade para seguir os estudos na área da música. 

Foste autodidata, certo?

Sim. Na guitarra e no ukelele.

E os teus pais reagiram bem a esse desvio?

Reagiram muito melhor do aquilo que estava à espera. A minha mãe reagiu logo muito bem, aliás, acho que ela já suspeitava que isso fosse acontecer. Em relação ao meu pai, sendo ele economista, achei que ia ficar um pouco desiludido, mas foi ao contrário. Deu-me bastante força. Eu não tinha estudos de música, não tinha experiência e não tinha ninguém ao meu lado que estivesse no mundo da música, a não ser um primo. Estava bastante afastada do meio musical. Achei que o início ia ser muito complicado, mas acabou por ser muito fácil. 

Sei que a tua bisavó era cantora de ópera. Naquela altura não devia ser fácil para uma mulher seguir esse caminho…

Nada fácil. Por acaso, há pouco tempo, encontrei uns vinis dela e até consegui recuperar alguns áudios com ela a cantar. Não era a profissão da minha bisavó, mas cantava, sim. Cantava em serões mais intimistas. Naquela altura, haver uma mulher de família a cantar ópera não era uma coisa bem vista. 

De Via passaste para Elvira. Porquê essa transição?

Com o projeto Via, que é o meu diminutivo, tinha de debater-me com algumas questões. Por exemplo, quando, em 2017, fiz a abertura dos concertos do Miguel Araújo, nos quais tocava cinco temas meus, sempre que me apresentava como Via tinha de explicar muito bem como é que as pessoas podiam encontrar-me na internet e nas redes sociais. O Via fugia sempre para a Via Verde. (risos) No ano passado, resolvi dar uma reviravolta no meu estilo musical, comecei a trabalhar com pessoas novas e acabei por expor-lhes esse problema. Sugeri mudar para Elvira. Não é um nome muito comum e é o meu.  Acho que está a correr bem.

Sobre as referências musicais:
 


 

No verão do ano passado, lançaste uma versão do tema 'Sonho Azul', da Né Ladeiras. Porquê esta visita ao imaginário dos anos oitenta? 

Foi uma consequência da Covid-19. O single que lancei agora, o 'Foi Sem Querer', devia ter saído no ano passado, mas com a pandemia e os consequentes confinamentos, nós, os artistas, ficámos sem saber com o que podíamos contar a curto prazo. Não sabíamos quando é que podíamos voltar aos concertos, como é que os lançamentos iam correr. Também comecei a notar que as pessoas estavam mais nostálgicas. Fiquei com essa impressão. Como tínhamos a equipa toda pronta para avançar, decidimos guardar as nossas cartadas, falo dos originais, e lançar uma versão. De certa forma, fizemos isso também assinalar a mudança do nome para Elvira. Foi muito giro trabalhar essa canção. Foi um convite para as pessoas ouvirem o som da Elvira, uma amostra para me dar a conhecer ao público. Aprendi imenso. Surgiu a oportunidade de fazer uma versão de um tema dos anos oitenta. Selecionámos algumas e, de todas, escolhemos o 'Sonho Azul' da Né Ladeiras. Foi uma escolha óbvia para mim e para o Bruno [Vasconcelos].

Deste-lhe um toque deste milénio...

Tudo graças às mãos e ouvidos do Bruno Vasconcelos. Ele tem muito jeito. A verdade é que o projeto Via tinha uma onda mais acústica, o que fez com que no início do projeto Elvira estranhasse um pouco a parte eletrónica. Agora já não. Sinto-me como um peixinho dentro de água.

Sobre cantar canções de outros:
 


 

 

Agora, quero saber mais sobre o single 'Foi Sem Querer'. Qual é a história deste tema?

Compus o 'Foi Sem Querer' em 2018, com o meu ukelele. Entretanto, mudei de equipa. Comecei a trabalhar com o Bruno Vasconcelos e com o Nuno Figueiredo e o tema acabou por levar uma roupagem completamente diferente. O Nuno Figueiredo ficou responsável por ver a letra à lupa. Começamos a encaminhar a música para um assunto que diz respeito a muita gente. Acho que as pessoas identificam-se facilmente com a canção. Muitas vezes parece que ficamos presos em situações com as quais já não nos identificamos, seja a nível de amor, trabalho ou até a nível familiar. Ficamos nessas situações demasiado tempo porque achamos que não temos alternativa. Mas temos. O tema foca a importância de ter amor-próprio. Primeiro temos de gostar de nós. Temos de estar bem connosco para conseguirmos estar bem com o mundo. Só depois de gostarmos de nós é que podemos gostar dos outros. 

Acaba por ter alguma pertinência. A experiência pandémica trouxe à superfície esse tipo de autorreflexão...

Sim, sim. Acho que toda a gente tem sofrido imenso com isto. Os artistas também. Acho fundamental termos calma e percebermos que há sempre alternativas, mesmo que a situação esteja muito má. 

Sobre a experiência do confinamento:

 

 

Inspiras-te em quê para compor? No que observas, nas tuas reflexões, nas histórias de outros, nas tuas? 

É um pouco de tudo. Nunca é só sobre mim. O mais difícil para mim é começar a escrever as canções. Tenho sempre vários assuntos que gostaria de abordar. Começo a abordar um tema mas por vezes acabo a canção com um assunto completamente diferente. (risos) Muitas vezes baseio-me em histórias de outras pessoas. Acaba por ser mais fácil para mim. Quando falo de mim fico muito mais sentimental e torna-se mais complicado pôr o que sinto em palavras. (risos) Muitas vezes começo por mim e acabo por desviar-me para histórias de outros. Acho que fica a soar melhor.

Sobre o vídeo que ilustra 'Foi Sem Querer':
 



 

 

O single tem um espírito up, muito para cima. O disco vai ter este tom positivo ou vai ter vários estados de espírito? 

Estou ansiosa por contar tudo. (risos) É um disco que vai ter muitas surpresas. Vai ter um tom muito alegre, mas também vai ter uma ou outra faixa a puxar mais para a tristeza. No que diz respeito à sonoridade, as restantes canções vão seguir a linha do primeiro single, com a mistura do acústico com o som mais eletrónico. Nós brincamos muito com as canções. Vai ser um disco com uma roupagem nova, fresca, alegre e com surpresas lá pelo meio.

 

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