Pearl Jam: "Ten" faz hoje 30 anos
1. Um disco económico
Os Pearl Jam emergiram da implosão da banda Mother Love Bone - depois da morte do vocalista Andrew Wood por overdose. 1990 foi quando os músicos Jeff Ament, Stone Gossard e Mike McCready acolheram o carismático Eddie Vedder, um jovem surfista de Chicago, a viver em San Diego, Califórnia, que dividia o tempo entre as ondas e os biscates. Formaram uma banda de raiz que, daí a algum tempo, acabaria por ganhar volume no mundo inteiro. Parece que a experiência dispendiosa (e o cúmulo de erros de principiantes) com os Mother Love Bone ensinou os jovens rapazes a gerir melhor os custos de produção. "Ten" custou apenas um terço do dinheiro que foi gasto em "Apple" - o único álbum dos MLB, editado depois da morte de Wood.
2. "Crazy" Eddie
Jack Irons, antigo baterista dos Red Hot Chili Peppers, foi a ponte entre Eddie Vedder e os restantes elementos do grupo. O vocalista foi "apresentado" à banda como o "crazy Eddie". Depois de uma troca de cassetes entre Vedder e os sobreviventes dos Mother Love Bone, a chama (eterna até hoje) acendeu quando se juntaram no estúdio London Bridge em Seattle. Na famosa cassete que enviou aos futuros companheiros de estrada, Eddie deu voz aos instrumentais de 'Dollar Short' ('Alive'), 'Once' e 'Footsteps' (tema que acabou por ficar fora do disco), mas foi em estúdio que o futuro foi selado. Conta Mike McCready: "nas primeiras gravações com o Eddie sentimos que estávamos perante um daqueles momentos que acontecem uma vez na vida. Jeff Ament acrescenta: "a voz dele conectou-nos".
3. O que pode fazer a privação de sono
Eddie Vedder, que era conhecido pelo homem que nunca dormia, andava privado de sono quando recebeu a demo com os instrumentais. Agitado por dentro e tímido por fora, o frontman do grupo ouviu a demo vezes sem conta no posto de trabalho da altura, uma bomba de gasolina. Com os instrumentais a chegar que nem ondas (ou borboletas) ao pensamento, as letras começaram a fermentar. "Quando passamos pela privação de sono ficamos tão sensíveis que parece que temos todos os nervos expostos", disse Vedder à Rolling Stone.
4. O tempo que 'Even Flow' demorou a fazer
'Even Flow' é um dos temas mais populares do coletivo de Seattle e, de acordo com as estatísticas, um dos mais tocados ao vivo. Não foi fácil apurar a faixa. Contam os Pearl Jam que chegar ao resultado final foi "uma autêntica dor de cabeça". "Refizemos o tema umas 50, 70 vezes", disse McCready ao Daily Record em 2009.
5. 'Oceans', a bonança no meio da tempestade
Eddie Vedder escreveu a letra de 'Oceans', a faixa sete do disco, no meio de uma tempestade, quando ficou sem acesso à sala de ensaios onde estava o resto da banda. "Houve alguém que me pediu para ir meter uma moeda no parquímetro. Fui e quando voltei já não consegui entrar", relatou Vedder à imprensa. Com papel, uma caneta e o som de fundo vindo da sala de ensaios, Eddie Vedder fez o que sabe fazer: escoar em palavras a intensidade humana que já não conseguia segurar.
6. Renascer no primeiro disco
As gravações de "Ten" duraram apenas duas semanas e meia. Simplesmente aconteceram - sem grande pressão, de forma orgânica e com o espírito de união que tem sido a cola dos Pearl Jam. Apesar de ser o primeiro disco, a banda descreve a experiência no estúdio como um ato de renascimento.
7. O primeiro concerto
A 22 de outubro de 1990 os Pearl Jam subiram a um palco pela primeira vez. Onde? No Off Ramp Cafe, bar situado na velha e carismática Seattle, o lugar encantado e de culto para os seguidores convictos da cena grunge que, nos anos noventa, não só arrebatou estados de espírito como confortou as diabruras da existência em camisas de flanela. No palco, os postos eram praticamente os que são hoje. Stone Gossard ao comando da guitarra, Jeff Ament no baixo, Mike McCready também nas proezas da guitarra e o tal de Eddie Vedder, de alma fértil e agitada, na voz. Na altura era Dave Krusen quem assumia o posto da bateria, agora entregue a Matt Cameron. O libertador 'Release' foi o primeiro tema que se soltou do pequeno, porém histórico, alinhamento.
8. Modernices
Quando o "Ten" foi lançado em formato CD, conta Jeff Ament ao VH1 que na altura não tinha leitor de CDs. É aqui que percebemos o que muda em 30 anos.
9. 'Black', canção demasiado pessoal para ser um hit
É pessoal e parece que quase toda a gente lambeu as feridas a ouvi-la. Em 1992, quando 'Alive', 'Even Flow' e 'Jeremy' já andavam a circular em força nas rádios, a editora Epic Records quis lançar o dorido 'Black' como single, ao que os Pearl Jam responderam: "não vai dar" ou coisa que o valha. A banda achava que a balada de todas as nossas dores era demasiado pessoal para ser um hit.
10. A capa
A imagem da capa de "Ten" transpira simbologia. Jeff Ament, que preparou o set para juntar o grupo para a fotografia, quis espelhar a ideia de uma banda unida. "Ten": um por todos e todos por um.
